O município de Maragogi, cidade litorânea localizada ao norte de Alagoas e que fica a 135 km de distância da capital Maceió, sendo o segundo polo turístico do estado, investe maciçamente em propagandas divulgando o tempo inteiro o glamour que a cidade de trinta mil habitantes oferece aos milhares de turistas espalhados pelo mundo. Milhões são investidos anualmente em propagandas que vão desde as belas paisagens que a cidade oferece à exuberância de catamarãs e lanchas imponentes que navegam pelas águas claras do mar de Maragogi, passeado com a alta sociedade.
Por outro lado, ambulantes, famílias carentes e desamparadas são esquecidas e escondidas dentro de um submundo que foi criado pelo poder público sem escrúpulos, fraudado pela maldade maquiavélica de homens que usam a política de forma impiedosa que atinge diretamente sua própria espécie sem pena e dó. Comunidades inteiras, com centenas de famílias, vivem no Caribe Brasileiro em choupanas sem banheiros e qualquer outro tipo de infraestrutura; carentes de tudo, inclusive água tratada, iluminação pública, educação, saúde ou qualquer outro de tipo de tutela originado pelo poder público. Sítio Maruim, Deda Paes e Alto dos Sonhos, periferias de Maragogi onde homens e mulheres que residem em tais localidades parecem não terem alcançado ainda o século vinte e um e a sua evolução na era da informática.
Após matéria exibida no dia 09 de janeiro de 2019 pelo Site de Notícias MaraGogiro intitulada “O outro lado do Segundo Polo Turístico de Alagoas”, em que foi mostrado a realidade de moradores do sítio Maruim, em São Bento, Distrito de Maragogi, onde quase nenhuma residência possuía banheiro e as necessidades fisiológicas dos cidadãos eram feitas em sacos plásticos e depois lançados em rios e manguezais. A prefeitura da cidade talvez tenha se sensibilizado com a situação e o abandono das centenas de famílias e deu início no mesmo mês a construção dos tão sonhados banheiros.
Após denúncia da reportagem, também foi descoberto que a prefeitura de Maragogi já tinha licitado a obra para construção dos banheiros através do contrato sob n° 48/2017, firmado em 25 de outubro do ano de 2017 com a construtora CP Construção e Engenharia, para que fossem construídos: 64 banheiros compostos de conjunto sanitário, sumidouro, conjunto séptico, reservatório e tanque de evapotranspiração, equivalente ao valor de R$ 504.073.42 (quinhentos e quatro mil. setenta e três reais e quarenta e dois centavos.). Um contrato avaliado em mais de meio milhão de reais com vigência por 12 meses, a contar a partir da emissão da ordem inicial. A prefeitura distribuiu a construção dos banheiros da seguinte forma: 31 módulos para o Sítio Maruim e 20 para a Rua da Concórdia, ambas em São Bento, e mais 13 módulos para o Sítio Tábua Lascada, em Barra Grande.
Na entrada do Sítio Maruim, uma grande placa imposta pelo o município indica que as obras foram iniciadas em 08/11/2017, com término previsto para 08/11/2019, e que os recursos são Verbas Federais oriundas da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde). A placa já demonstra contradições visíveis com o que foi Publicado no Diário Oficial, pois sua vigência seria de 12 e não de 24 meses como está escrito na placa. A obra dos 31 banheiros destinados ao Sítio Maruim foi iniciada em janeiro deste ano, mas até agora, seis meses depois, apenas seis banheiros foram concluídos porque, de acordo com um pedreiro, a falta de material e a falta de pagamento para os profissionais, fez com que a obra fosse paralisada por várias vezes.
O pedreiro José Daniel da Silva de 26 anos informou que apenas quatro pessoas trabalham no projeto, sendo dois pedreiros e dois ajudantes, e que devido à necessidade de cada um, que estavam desempregados há algum tempo, aceitaram trabalhar no projeto. Porém, o encarregado da obra aproveitou da situação e pagou ao pedreiro apenas R$ 500,00 (quinhentos reais) por cada banheiro construído, e ao servente, apenas R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), e quando faltava material teria de ir para Maragogi fazer serviços extras nas casas dos “nobres”, porém, o pedreiro não soube informar os nomes dos privilegiados pelo poder público. José Daniel ainda disse que, além da mixaria, ainda foram humilhados no atraso dos pagamentos: chegou há ficar quatro meses sem receber os vencimentos. Por esta razão, eles abandonaram a obra e só retornaram quando a empresa mudou de encarregado, que garantiu pagar R$ 1.200 (um mil e duzentos reais) ao pedreiro por cada banheiro terminado e R$ 400,00 (quatrocentos reais) ao servente. Ainda segundo José Daniel, cada banheiro mede 1.70m x 1.40m, com duas torres para colocar a caixa d’água e levam de 15 a 20 dias para serem concluídos.
A empresa contratada pela prefeitura já concluiu seis banheiros, e para a tristeza de todos os contemplados do projeto, cinco já apresentaram uma série de problemas, sendo alguns interditados pelos próprios moradores. No entanto, as necessidades fisiológicas voltaram a ser feitas aos mesmos costumes de de antes. Os banheiros estão servindo apenas para o banho. O único banheiro que não apresentou problemas até o momento foi o que seguiu a regra do projeto licitatório, que diz que os banheiros deverão ser compostos por sumidouro, conjunto séptico, reservatório e tanque de evapotranspiração. Os cinco banheiros que apresentaram problemas tiveram as fossas modificadas para fossas ecológicas.
Em menos de dois meses de uso, segundo moradores, os banheiros ficaram inutilizáveis porque as fossas ecológicas encheram rapidamente. Encanações tiveram de ser adaptadas pelos próprios moradores e a água podre voltou para os manguezais e rio. Já os kits banheiros são de péssima qualidade, portas desniveladas, fechaduras sem padrão e uma estrutura gigantesca para segurar apenas uma caixa d’água de 500 litros com cano de 025 polegadas, que na verdade não passam de uma verdadeira lambança com o dinheiro público. A obra mal feita é criticada até mesmo por aqueles que não entendem de construção civil. “Pela primeira vez em minha vida vejo uma fossa ser construída acima do nível do piso do banheiro, então, ao encher, logicamente que a água teria que dar retorno. Coloquei a toalha molhada no suporte e caiu tudo”, ironiza a dona de casa que pediu para não ser identificada.
Mesmo com tantos improvisos e materiais de péssima qualidade, o Sr. Cícero Alexandre de 40 anos ficou indignado por ter ficado fora do projeto, perdendo a chance de ter em sua residência o seu humilde banheiro de alvenaria, mesmo mal feito pelo o município que, segundo ele, o excluiu do cadastro que o pessoal da prefeitura estava fazendo por entenderem que ele não precisa de banheiro, uma vez que já possui um em sua humilde residência. Seu Cícero fez questão de mostrar a situação do banheiro. “Eles entenderam que esse banheiro não precisa de reforma e que está em boas condições.” Finaliza lamentando o morador, que diz que também foi explorado no inicio da obra trabalhando como pedreiro por R$ 500,00 (quinhentos reais), e mesmo assim, ficou de fora do faraônico projeto de mais de meio milhão de reais, onde cada banheiro saiu por mais de sete mil reais.
Nossa reportagem entrou em contato através de telefone com a empresa CP Construções LTDA, mas fomos informados que o número disponível no contrato pertence ao contador da empreiteira, e que o dono da empresa se chama Ronaldo. Ligamos para ele, que nos informou de que há quatro anos tinha repassado a empresa para seu cunhado chamado Cleiton Peixoto. Ligamos para Cleiton, mas as ligações não foram atendidas.
(A REPORTAGEM DARÁ SEQUÊNCIA SOBRE OS BANHEIROS DA RUA DA CONCÓRDIA AINDA EM SÃO BENTO, E TÁBUA LASCADA EM BARRA GRANDE).