Lideranças e produtores dos assentamentos de Maragogi, a 134 quilômetros de Maceió, se reuniram nessa sexta-feira (13), no auditório do Instituto Federal de Alagoas, com representantes do governo federal, da prefeitura e de instituições parceiras para discutir a Rota da Fruticultura no município e no estado.
O assessor especial do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), Aldo Aloísio Dantas da Silva, e o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, César Lira, participaram do evento como palestrantes.
Andréa Raquel Cruz Ramos, representando a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Marcel Henrique de Melo Alves, gerente do Banco do Nordeste na cidade, e Luciano Monteiro, coordenador da Rota da Fruticultura no Ageste, também estiveram presentes. A prefeitura foi representada pelos secretários de Agricultura, Daniel Mendes, e de Turismo, Diego Vasconcelos.
Técnicos do Incra nacional das áreas de crédito e apoio à produção já estavam no estado desde o início da semana visitando assentamentos e participaram do encontro em Maragogi. Também fez parte da mesa como anfitrião o assentado Johnatan Edneyson Silva, presidente da associação do assentamento Nova Jerusalém.
A sede do Ifal em Maragogi fica numa área cedida pelo Incra dentro desse assentamento.
MAIOR NÚMERO DE ASSENTAMENTOS
Maragogi é o município com o maior número de assentamentos federais de Alagoas, ocupando um total de 12,8 mil hectares de áreas reformadas. São 1.611 famílias em 18 assentamentos criados pelo Incra.
Os assentamentos de Maragogi são conhecidos por sua produtividade e participação efetiva na economia da região Norte do estado.
O superintendente César Lira apresentou dados que confirmam ser a fruticultura “responsável por 57% da produção total dos assentamentos de Maragogi e também por 75% da geração de renda”. Abacaxi, banana, graviola, coco e maracujá se destacam entre os produtos mais cultivados.
Recentemente, experiências com o açaí têm crescido no município. No assentamento Bom Jesus, além da polpa de frutas, também já há produção pioneira de café de açaí.
O MDR já tem ações no segmento da fruticultura em outras regiões do estado. “Através da parceria com o Incra e a Codevasf, será possível a organização de um novo polo regional para a estruturação da cadeia produtiva da fruticultura, a partir das experiências nos assentamentos de Maragogi”, afirmou o assessor especial Aldo Aloísio.
Ele chamou a atenção dos assentados para a oportunidade que terão, ao longo da semana, de fazer uma discussão com professores e técnicos da Universidade de Viçosa (MG), em uma oficina sobre fruticultura.
“Os técnicos farão um diagnóstico da realidade produtiva, portanto, sejam pé no chão, mostrem onde estão e o que pretendem alcançar, pois é isso que propicia ao governo e seus técnicos a tomar decisões e fazer a política pública dar certo.”
ROTA DA FRUTICULTURA
O assessor especial explicou que o principal objetivo da sua presença é a implantação da Rota da Fruticultura em Maragogi e no estado de Alagoas. “Uma meta nossa, em pouquíssimo tempo, é a plantação de um milhão de árvores de espôndias, iniciando pelo umbu-cajá.”
As espôndias são árvores que dão frutos pequenos e ácidos, muito comuns no Nordeste e crescentes em outras regiões, tanto ao natural ou processados na forma de polpa. O beneficiamento dessas frutas gera derivados como suco, geleia e sorvete.
A umbu-cajazeira, o umbuzeiro e a cajazeira são três espécies nativas de espôndias. Ao lado da exótica sirigueleira, exercem um papel de destaque na produção de polpas de fruta na região.
Luciano Monteiro é um entusiasta do projeto. Ele é dirigente da Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios, com uma experiência reconhecida no segmento da fruticultura, no Nordeste e no país.
“Há algumas décadas, quem acreditaria que a região litorânea sequer pudesse produzir graviola? E vocês provaram que é possível e com qualidade”, disse, apontando para o espaço onde assentados expuseram seus produtos. “Isso mostra o potencial de diversificação já existente”.
Na exposição, havia muitas frutas, sucos, café, além de utensílios artesanais elaborados nos próprios assentamentos.
DIVERSIFICAÇÃO
O dirigente cooperativado e produtor rural tem acompanhado o assessor especial do MDR em suas visitas aos municípios alagoanos. Ambos consideram o cenário produtivo de Maragogi ideal para a introdução de novas culturas.
Aldo Aloísio destacou que, mesmo tendo uma cultura predominante, “o consórcio e a diversificação são determinantes para o desenvolvimento da produção e para o crescimento econômico das famílias”.
“Chega de tratar assentado e agricultor familiar como pequeno, chega dessa síndrome de pequenez incutida na nossa região, todos podem e devem crescer e a diferença para os grandes centros passa a ser apenas uma questão de escala.”
O Banco do Nordeste vai ampliar sua carteira para apoiar os assentados e agricultores do município. Foi o que afirmou o gerente local do BNB, Marcel Henrique. “Fico feliz em ver esse momento, com a presença dos produtores, porque sei que temos espaço para ampliar essa parceria e Maragogi tem no turismo e na agricultura familiar um suporte muito forte.”
PARCERIAS
César Lira reforçou a importância da parceria com o BNB. “A agência do banco em Maragogi já faz um trabalho muito amplo e rico com os agricultores e, com certeza, o Incra vai buscar formas legais de propiciar ao assentado manter o recebimento de seus créditos e também poder acessar o Pronaf para fortalecer sua produção.”
Para César Lira, a presença do MDR, do Banco do Nordeste, Codevasf e prefeitura simbolizam uma parceria fundamental para o município. Ele enfatizou também a participação de lideranças de todos os assentamentos de Maragogi.
“Estou vendo aqui vários assentados, de vários assentamentos do município que produzem pra valer, sempre tiveram dificuldade e falta de apoio, fruto de desorganização e falta de compromisso das instituições no passado, mas agora já estamos dando passos importantes e já estamos mudando esse cenário.”
INVESTIMENTOS
O superintendente do Incra fez um balanço dos investimentos federais, através do Incra, no estado e em Maragogi. Além do suporte na assistência técnica e liberação de créditos para fortalecimento da produção, o Incra de Alagoas se destaca nacionalmente por ter sido pioneiro na retomada da construção e reforma de casas.
Lira explicou que há um trabalho sério de regularização dos assentamentos e homologação de famílias. “Só em Maragogi, este ano, tivemos 100 novas homologações, famílias que estavam fora da Relação de Beneficiários e agora estão aptas a receber créditos e, quando possível, a acessar a titulação”.
O Incra tem como meta, para 2021, a emissão de 600 títulos definitivos em Alagoas. “Metade desse número corresponde a assentados de Maragogi”. Lira informou que já foram emitidos, só em este ano, 1.072 Contratos de Concessão de Uso (CCU), os chamados títulos provisórios.
Ele apresentou aos participantes do evento a equipe nacional de técnicos do Incra que vinha, desde o início da semana, realizando visitas nos assentamentos beneficiados com recursos do Incra para a construção e reforma de casas.
“Eu sei do empenho dessa equipe, sei também que me torno chato, às vezes, por estar sempre cobrando, pedindo, mas tenho que reafirmar aqui que temos tido o reconhecimento de Brasília e o resultado disso são os números que podem ser comprovados por todos.”
COMPROMISSOS DO MDR
O assessor especial do MDR assumiu três compromissos com os assentados de Maragogi e de Alagoas e com as demais instituições representadas no evento.
“Vou evitar grandes promessas e assumir o que é possível: apoiar o Incra para a entrega de mais mil documentos de titulação no estado; pavimentar a principal estrada para escoamento da produção dos assentamentos de Maragogi e assegurar a certificação para a comercialização dos produtos da fruticultura, através do Sisbi.”
Aldo Aloísio afirmou ser determinante, para cumprir esses compromissos, a parceria entre o MDR e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O Incra em Alagoas já tem uma chamada pública aberta para a contratação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), e recebeu, no evento, o compromisso do MDR em também ajudar nesse aspecto.
“O horizonte de cada assentado, de cada agricultor deve ser alcançar o mundo e isso só acontece quando se pensa grande, quando se tem crédito e assistência técnica”, reforçou o assessor do Ministério.
Vera Lúcia da Silva, assentada de Bom Jesus, tem essa visão. Ela e sua família são pioneiros na produção da polpa de açaí e do café de açaí no município. “Estamos produzindo, trabalhando, e esse tipo de apoio é o que precisamos para tornar nossos produtos conhecidos e com possibilidade de comércio em outros estados.”
TURISMO E AGRICULTURA
O turismo e sua relação com a agricultura também foram lembrados por Aldo e outros componentes da mesa. “Tudo tem muito a ver com o turismo, tanto do ponto de vista do conhecimento e da curiosidade do turista em conhecer os tipos de produção, como no aspecto econômico, fortalecendo o ciclo de venda e consumo num município reconhecidamente turístico.”
O assessor explicou que a crise gerada pela pandemia fez o turismo internacional apresentar fortes índices de queda e o que se percebe hoje é uma maior dinâmica do turismo regional.
Maragogi, além de ser o município alagoano com o maior número de assentamentos no estado, também é o maior destino turístico de Alagoas depois da capital.
Dentro das áreas de reforma agrária do município, há reservas legais. Em uma delas, no assentamento Água Fria, se destaca a Trilha do Visgueiro, um roteiro turístico procurado na região.
O artesanato vinculado ao turismo tem recebido apoio do Incra. César Lira lembrou do grupo Mulheres de Fibra, “uma iniciativa que contou com recursos do Incra para a construção de uma unidade produtiva para o artesanato local”.
O secretário de Turismo da prefeitura de Maragogi, Diego Vasconcelos, reforçou a tese dos representantes do MDR e do Incra. “Maragogi reúne todas as condições para se associar turismo e agricultura.”
Ele argumentou que não se justifica o fato de hotéis e restaurantes da cidade comprarem produtos do Recife originários de Maragogi. “Essa relação de proximidade vai permitir que possamos evitar o atravessador, e articular o mercado local do turismo para priorizar a aquisição direta em nossos assentamentos.”