Conheçamos a história de mais um brasileiro, que, ainda jovem, migrou, de Pernambuco para Alagoas, em busca de emprego, renda e uma vida digna. Trata-se de Manoel Vitorino da Silva, hoje com 70 anos. Conseguiu o seu objetivo às custas de viver apartado da família, até que dois cidadãos de Barra Grande, em Maragogi, resolveram ajudar o senhor Manoel e promover reencontro esperado ao longo de décadas.
Manoel Vitorino contava apenas dezenove anos quando juntou os seus pertences e deixou para trás, família, amigos e os primeiros capítulos da sua história, que se escreveram na pequena cidade de Jurema, agreste pernambucano. De acordo com os relatos, ele saiu para cortar cana nas usinas que, na época, eram as maiores geradoras de emprego e renda na região; buscava a oportunidade de crescer e constituir família, porém nunca retornou à terra natal. Cada dia, mês e ano que passava levava um pouco da esperança dos seus familiares de reencontrar o jovem que havia partido.
Enquanto isso, Vitorino colhia os frutos das suas aventuras por terras alagoanas: trabalhou feito um trator na lavoura, conheceu várias cidades e conquistou novas amizades; e entre altos e baixos, viu-se cada vez mais distante da pequena terra natal, dos antigos amigos e da família. Para ludibriar a solidão, Manoel Vitorino se apegou ao alcoolismo, seu principal atrativo por anos. Ele se uniu a uma mulher chamada dona Inácia, também alcoólatra, e juntos se instalaram no morro de Barra Grande, que fica detrás do posto de combustível. Lá, o casebre de taipa era conhecido e o casal como não incomodava ninguém, embora estivesse embriagado a maior parte do tempo, era querido entre os moradores de Barra Grande.
Em um dia de bebedeira, dona Inácia incendiou sem querer a casinha de taipa; o fogo consumiu todos os documentos do casal. Tempos mais tarde, dona Inácia faleceu e seu Vitorino tocou a vida adiante. Ele permaneceu no morro, do qual foi o primeiro habitante.
Hoje de idade avançada e sem documentos – o fogo os consumiu –, Manoel tem dificuldade de provar o direito à aposentadoria. Por isso, dois amigos, que acompanharam de perto a história do senhor Manoel Vitorino e de dona Inácia, tomaram a causa e foram em busca da origem do primeiro homem que habitou o morro de Barra Grande. Tratam-se de Júnior de Barra Grande e Levi “do Ônibus”. Com diligência, e descobriram que seu Manoel é da cidade de Jurema, em Pernambuco.
Após 50 anos, eles realizaram o sonho de seu Manoel: rever a família. Na manhã dessa quarta-feira (26), seu Manoel seguiu para Jurema-PE com o vereador Júnior de Barra e Levi do Ônibus. Pouco ele reconheceu na cidade que deixou ainda jovem, mas com algumas referências Júnior e Levi encontraram as primeiras pistas de familiares de seu Vitorino: o pai, Antônio Vitorino da Silva, e a mãe, Maria Joana da Conceição, além de um de seus irmãos, Luiz Vitorino, já faleceram; entretanto, os irmãos Antônio, Cordeiro e Djanira ainda habitam na pequena cidade.
E quando Antônio e Cordeiro reencontraram seu Manoel Vitorino, depois de 50 anos, Júnior e Levi se emocionaram. De imediato eles não acreditaram, mas os traços familiares não enganariam, foram mais fortes de a descrença. Pois os irmãos pensavam que seu Manoel já falecera, pois não souberam dele desde que saiu dos braços da família.
A irmã Djanira, por morar em outra cidade, não reviu o irmão, mas agora sabe o seu endereço prometeu ir visitá-lo em Maragogi.
O vereador Júnior declara: “A gente sempre viu nele [Manoel] uma bondade, um respeito, mas ficávamos perguntando ‘quem é ele?’, ‘de onde veio?’. A família de Levi sempre o tratou bem e, dentro do possível, o ajudou com trabalho e dignidade.” Ele deixou os irmãos matando as saudades e foi até o cartório da cidade, onde pagou a taxa de busca de documentos; afinal, seu objetivo era, além de promover o reencontro, conseguir os documentos de seu Manoel para que ele se aposente.
Manoel Vitorino de camisa azul, seu irmão Antônio de boné preto e Cordeiro de boné vermelho.