Parece coisa de cinema, mas é real: a cidade de Maragogi, situada na região norte de Alagoas, distante 135km da capital Maceió, é destaque mundialmente por suas atrativas belezas naturais. As dezoito áreas da cidade pertencentes ao INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), totalizando mais de doze mil hectares, implicam que a quantidade de habitantes da zona rural tem quase a mesma proporção de habitantes da zona urbana.
Os assentamentos maragogienses são destaque para os técnicos do próprio INCRA, pois emplacam números animadores nas estatísticas da lavoura. Dados do INCRA confirmam que a fruticultura é responsável por 57% da produção total dos assentamentos de Maragogi e por 75% da geração de renda. Toda produção ganha destaque, ainda que o trabalhador não tenha incentivos, sendo visto pelo governo como mero pagador de imposto.
No entanto, o escoamento da produção dos assentados de Maragogi é uma questão preocupante. Curtos períodos de chuva deformam as estradas e isolam milhares de trabalhadores, capazes apenas de observar o apodrecimento dos seus produtos.
O que chama atenção da reportagem é o calçamento das agrovilas dos assentamentos agregados ao INCRA. Não se sabe o porquê de tanto esforço para se calçar pequenas ruas, enquanto o principal, as estradas que dão acesso à área urbana, permanece abandonada. A única novidade foi que o assentado se isolou com as pedras de paralelepípedos do INCRA.
O calçamento das agrovilas pode ter sua razão de ser, pois todos merecem dignidade e conforto; no entanto, há preocupações maiores na cabeça do homem do campo maragogiense. Se a verba das pedras fossem investidas nos locais mais críticos das estradas, a satisfação para os trabalhadores talvez fosse outra. Seria interessante que o INCRA tivesse discernimento para entender que a maior dignidade do homem do campo é a sua liberdade de locomoção, e isso só acontece com uma boa estrada, pois é ela a principal fonte de renda do trabalhador. É por lá que entra educação, saúde, segurança e geração de renda. Com calçamentos nas agrovilas, isto só leva a crer que a velha história do instituto em dizer que não tem verba quando se cobra estrada caiu pelo ralo. Agrovilas asfaltadas significam que o governo tem dinheiro, mas com o isolamento do povo por conta das chuvas, todo trabalho desenvolvido por qualquer órgão público redunda inútil, aproveitando a fragilidade com o dinheiro público.
A chuva já reduziu a escombros uma parte do novo calçamento.
Coisa de cinema na zona rural de Maragogi.