Aliados e adversários de Washington denunciaram nesta sexta-feira (9) a guinada protecionista americana e um ataque contra o livre comércio após o anúncio de Donald Trump sobre uma controversa tarifação, que faz temer uma guerra comercial internacional.
A Alemanha, um dos principais países exportadores do mundo, reagiu com firmeza após um ataque de Trump nesta quinta-feira por seu grande excedente comercial e, ao mesmo tempo, por um gasto militar que considera muito baixo.
“Observamos com preocupação o aumento das taxas sobre alguns produtos”, afirmou a chanceler Angela Merkel em coletiva de imprensa em Munique, defendendo o diálogo para evitar um conflito comercial porque “ninguém ganhará uma corrida assim”.
“Trump isola seu país, contra a opinião de seu partido, de diversas empresas e de economias”, tinha afirmado antes a ministra alemã de Economia, Brigitte Zypries. “É protecionista, é uma afronta a sócios próximos, como a União Europeia e a Alemanha, e ao livre-comércio.
Os aliados francês e britânico também criticaram as medidas americanas, enquanto a China, segunda maior economia mundial, denunciou “um ataque deliberado ao sistema comercial multilateral”.
– Medidas de represália –
UE e Pequim criticaram sobretudo o argumento usado por Trump, de defesa nacional, para impor as tarifas de 25% às importações americanas de aço e de 10% às de alumínio.
“Não podemos ser uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos, então esperamos ser isentos”, afirmou a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström. A Europa exporta 5 bilhões de euros de aço e 1 bilhão de euros de alumínio aos Estados Unidos por ano.
O Ministério de Comércio chinês denunciou um abuso, e o chefe da diplomacia, Wang Yi, prometeu uma resposta apropriada em caso de guerra comercial com Washington.
Com entrada em vigor prevista para daqui a 15 dias, os europeus já estabeleceram uma lista de medidas de represália contra produtos americanos emblemáticos, como manteiga de amendoim e suco de laranja.
Tóquio, maior aliado dos EUA na Ásia, também sinalizou a possibilidade de adotar “medidas apropriadas”.
A Casa Branca afirmou que todos esses países poderiam negociar uma eventual isenção. “Vamos mostrar muita flexibilidade”, garantiu Trump.
Assim, o Canadá – maior parceiro comercial e fornecedor de aço e alumínio dos Estados Unidos – e o México não serão afetados “por enquanto”. Seu destino dependerá do desfecho das negociações em curso do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta).
– Gasto militar na Otan –
O presidente americano assinou nesta quinta os controversos documentos que marcam a virada protecionista, 13 meses depois de sua chegada ao poder. Ele garantiu que o país foi vítima, durante décadas, de práticas comerciais desleais.
Trump apontou especialmente à Alemanha, associando a questão comercial aos gastos militares no âmbito da Otan.
Berlim, assim como os outros países da Aliança Atlântica, se comprometeu a aumentar até 2024 seu gasto de defesa a 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB), frente ao 1,2% atual.
Mas para convencer os social-democratas a se unirem ao seu novo governo, após seis meses de bloqueio político, Merkel precisou reduzir o ritmo do aumento previsto. Assim, o gasto só deve chegar a 1,5% do PIB em 2021 – longe do objetivo da Otan.
– Revolta entre republicanos –
Até nos Estados Unidos o anúncio da tarifação gerou revolta, inclusive nas filas do Partido Republicano de Trump. Muitos legisladores discordam da opinião do magnata de que guerras comerciais “são boas e fáceis de ganhar”.
Seu principal conselheiro econômico, Gary Cohn, também em desacordo, pediu demissão na terça-feira.
O presidente republicano da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, expressou claramente sua desaprovação, enquanto o senador Jeff Flake anunciou um projeto de lei para anular estas tarifas.