Há 28 anos, a cidade milionária do litoral norte de Alagoas deixou de ser administrada pelos nativos e passou a ser gerida democraticamente por homens de outras regiões, que chegaram a Maragogi na época ou para exercer sua função de trabalho ou para curtir as aventuras de verão no mar de águas quente e cristalinas que banham o lugar.
A cobiçada cidade litorânea fica localizada a 135 km de distância da capital Maceió, e a suas principais fontes de renda são a prefeitura, que gera centenas de contratos para correligionários de grupos políticos, e o turismo, que também gera centenas de empregos diretos e indiretos. Com tantas riquezas em uma única cidade, muitos moradores se perguntam: por que o poder público foi parar nas mãos de homens de outras regiões? Por que o nativo não tem mais coragem de disputar uma vaga no poder executivo?
Diante dos questionamentos, acrescenta-se: que valeu a pena Maragogi ser administrada pelos homens de fora? Relembremos um pouco da rotina dos políticos que implantaram um tipo de sistema ao longo do tempo, com o qual os nativos continuam se distanciando cada vez mais do poder, e que torna mais difícil a cada ano alguém de Maragogi administrar a famosa prefeitura.
Foi na década de 1990, antes da implantação da reeleição, que tudo começou, quando foi eleito um médico da cidade de Tabira, em Pernambuco, que exercia sua profissão em Maragogi. Famoso profissionalmente, Paulo Max foi o primeiro prefeito de fora eleito democraticamente pelos maragogienses, que foram sensibilizados pela sua história de luta e sofrimento para conquistar um diploma de médico. No entanto, sua administração foi um desastre. Paulo Max implantou a cultura do atraso salarial do funcionalismo público, que foi adotada por seus sucessores como forma de troféu. Saiu do poder deixando seis meses de salários atrasados, e mesmo assim conseguiu fazer o seu sucessor, elegendo o também médico Fernando Sérgio Lira (atual prefeito), nativo da cidade de Anadia, em Alagoas. Nos anos seguintes, Paulo Max não conseguiu se eleger a vereador e, assim, encerrou a sua carreira política.
Diferente da época de Paulo Max, quando as prefeituras viviam quase sem lucros, Sérgio Lira entrou na prefeitura de Maragogi no momento em que o Brasil passava por uma série de reformas e transformações através do Governo Federal; políticas públicas, moeda e economia tomavam novos rumos para o bem da população. Foi na primeira gestão do prefeito Sérgio Lira que as prefeituras receberam mais recursos por parte do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e do antigo Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). Com tanto dinheiro entrando nos cofres públicos entre 1990 e 2000, o nome de prefeito perdeu o status de posição, que foi substituído pelo efeito da cobiça e da ganância, porquanto as prefeituras estavam faturando mais do que muitas multinacionais.
Foi implantada nesse período a reeleição do poder executivo no Brasil, e aqueles que já estavam no poder tiveram larga vantagem, já que o povo entendia que o os gestores da época eram bons administradores; não sabia a população, porém, que as prefeituras viviam novos tempos, com mais recursos e novos programas sociais para atender as famílias carentes. Assim, Sérgio Lira foi reeleito e o seu segundo mandato foi considerado catastrófico; por isso, não conseguiu fazer o seu sucessor, mesmo tendo se afastado do cargo para que o seu vice assumisse a prefeitura e disputasse as eleições em 2004. Essa dobradinha rendeu ao funcionalismo público mais seis meses de salários atrasados. Meses depois, o ex-prefeito Sérgio Lira foi preso em uma operação da Polícia Federal, denominada Operação Guabiru.
Enquanto os nativos aplaudiam as barbáries implantadas pelos homens de fora que assumiram o poder de Maragogi, em 2004, outro nome toma posse da prefeitura, o então empresário Marcos Madeira, natural de Virçosa, em Alagoas. Contudo, ele já era conhecido por todos, pois, além de ser frequentador das belas praias maragogienses, ostentando em carros importados e lanchas potentes, o empresário já havia sofrido duas derrotas políticas. Admirado por onde passava, Marcos Madeira teve seus dias de glória em seu primeiro governo, e acabou sendo reeleito com a votação expressiva de 61% do eleitorado.
Já em seu segundo mandato, assim como o seu antecessor, Marcos Madeira deixou muito a desejar, mas conseguiu o feito de eleger o seu filho Deputado Estadual. Com esta façanha, sua popularidade voltou à tona, mas o seu mandato atravessou grande desgaste administrativo; a inadimplência no mercado local e os salários atrasados já davam sinal de que o povo não estava mais adotando este tipo de política. Mesmo assim, Marcos Madeira conseguiu eleger seu sucessor, o seu primo Henrique Peixoto, com vitória apertada.
A baixa diferença de 173 votos para o seu principal rival, o insistente médico Sérgio Lira, não serviu de alarme para Henrique, que não conseguiu alavancar mais o governo e sucumbiu anos depois. Assim como aconteceu no final do governo Sérgio Lira, Marcos Madeira também foi alvo da justiça, mas da Estadual. Ele não conseguiu comparecer à posse do seu primo eleito por estar foragido da justiça, que tinha decretado a sua prisão após acusa-lo de corrupção.
Com a vitória de Henrique Peixoto, natural de Maceió, Maragogi chegou à marca de vinte anos de administração estrangeira. Bem intencionado, o prefeito Henrique Peixoto adotou em seus primeiros dois anos um governo sério e adimplente, conquistou o mercado local e quitou todos os débitos deixados pela administração anterior, mas, nos últimos dois anos, sua gestão caiu de ponta-cabeça. Todo o quadro de funcionalismo público começou a sofrer por falta de salários, e a cidade parou no tempo. Nesse período, o grupo dos Madeira começou a perder liderança e popularidade, além de não ter levado em conta os pouquíssimos votos de diferença que obtiveram na eleição anterior. Com isso, o governo de Henrique Peixoto sofreu com impopularidade, e não adotou novas estratégias ou novos rumos. A situação ficou ainda mais deplorável em pleno ano eleitoral, devido à falta de pagamentos em todos os setores da prefeitura.
Diante da situação desgastante e inexplicável, o prefeito Henrique Peixoto não foi para a reeleição, preferindo apoiar de volta o seu primo Marcos Madeira. Mas, com o governo enfraquecido e desgastado além da conta, o popular Marcos Madeira não conseguiu abater o seu principal rival político, que se fortalecia a cada falha administrativa da outra parte; assim, o povo devolveu o poder ao opositor, o médico Fernando Sérgio Lira Neto.
Ao término do terceiro mandato do então prefeito Sérgio Lira, em dezembro deste ano, Maragogi completará 28 anos de administração “estrangeira”. Historicamente as reeleições dos prefeitos da cidade de Maragogi não trás boas lembranças. Com tanto dinheiro e tantas pessoas envolvidas, a pergunta continua sem solução: quando será que um nativo assumirá o poder?
Caso chegue a resposta, é bom lembrar-se que, se o funcionalismo público e o mercado local não forem pagos, o poder irá para as mãos de novos investidores, provável e novamente de fora.
*Por Assis Lima.
Parabéns, meu amigo Assis, ótima retrospectiva política da nossa querida Maragogi-AL. Peço a Deus, que Ele ilumine os pensamentos dos meus irmãos de Maragogi. Para que eles escolham um gestor nativo com desenvoltura para trazer o verdadeiro desenvolvimento que essa linda e abençoada cidade precisa, pois a maior obra é cuida das pessoas…