O carnaval de Maragogi já foi considerado um dos melhores de Alagoas, mas em poucos anos nativos, turistas e veranistas viram a maior festa popular brasileira sendo definhada no segundo polo turístico do Estado. A maior expectativa para este carnaval em Maragogi era a de melhora em todos os sentidos, com boas atrações em trios e palcos; ainda mais por ser um ano de eleição, quando prefeitos e vereadores aproveitam o gancho para se tornarem bonzinhos perante a população. Nem assim, contudo, o município conseguiu realizar um carnaval a altura dos visitantes e nativos.
“Fomos ao município para passar o carnaval. Encontrei essa vaga na qual não havia nenhuma informação proibindo estacionar, e saímos para almoçar; logo observamos que ao lado do carro havia um guincho e dois guardas de trânsito da prefeitura. Fui conversar com eles para saber o que estava ocorrendo, e eles, em tom agressivo, pediram para que eu pagasse o guincho porque estava em local proibido. Eu disse que não, e eles não queriam me deixar retirar o meu carro e ameaçaram chamar a polícia. Um guarda de camisa preta deu um soco no meu carro e passou a nos seguir com a sirene ligada. Não recomendo a hospedagem na cidade, pois existe abuso de poder, desrespeito para com os turistas e desorganização no trânsito”, repudiou nas redes sociais o senhor João Lima, onde as reclamações em poucos minutos já ultrapassavam os 131 comentários negativos.
Na verdade, o que vem sendo observado nos guardas de trânsitos de Maragogi é que a prefeitura está fazendo um “pega-na-rua” entre homens e mulheres, recrutando-os sem qualquer tipo de requerimento especial para a prestação de serviço na SMTT: recebem fardas com as siglas do órgão e já estão aptos a trabalharem no trânsito da cidade, arrumando eles mesmos, na maior parte das vezes, problemas com motoristas. Além do abuso de poder, usam palavras de baixo calão, desrespeitam e constrangem cidadãos, tudo sob a suposta proteção da prerrogativa de acionar a polícia militar quando são questionados.
Especialistas advertem que, em caso da SMTT cobrar guincho, o valor tem que ser quitado através de boletos bancários que vão direto para os cofres do município; caso contrário, esse tipo de pagamento se chama “propina.” Diante da inexistência de sinalização de trânsito e do agente procedendo de forma falha, não pode haver sansão, e esta conduta do agente de trânsito em querer receber qualquer vantagem é criminosa de acordo com o Art. 316 do Código Penal, sendo cabível de prisão pelo Art. 301 do Código de Processo Penal, que comanda que as autoridades policiais e seus agentes prendam quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Um advogado especialista em direito penal informa que a melhor solução nestes casos é gravar os fatos e procurar uma delegacia para fazer um B.O.
(Salientamos que existe um concurso em andamento para agentes de trânsito no município e que os mesmos ainda não assumiram as vagas por estarem cumprindo a legalidade do edital.) Por telefone tentamos falar com o senhor Elias Noé que é superintendente do órgão, mas o telefone estava desligado. Também apuramos que a prefeitura arrumou esse pessoal apenas para trabalhar no período de carnaval, e que vários já foram dispensados depois de terem causado total prejuízo ao turismo de Maragogi.
Ministério Público
Antes da realização do carnaval de Maragogi, o MP/Estadual, na pessoa da promotora de justiça Francisca Paula, convocou representantes das secretarias do município que se envolveriam neste carnaval para que um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) fosse assinado por todos com o intuito de comprimento e ordenamentos de regras para que o carnaval de Maragogi seguisse um padrão de tranquilidade. Entre as regras estavam horários, som de paredão, desfile de blocos etc. Caso o município não cumprisse com o que determina o TAC, as secretarias envolvidas no carnaval receberiam multa diária de R$ 2.000,00 (Dois mil reais), valor para ser remetido ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente. De acordo com a ordem do Ministério Público, a festa do carnaval de Maragogi deveria ser encerrada todos os dias às 02h da manhã.
Jogo Baixo.
Bloco Laranjeiras
A banda que arrastou a multidão foi Affarra, que esbanjou axé e swingueira na sexta-feira de carnaval. Porém, os organizadores do trio elétrico informaram ao produtor do bloco da Isabella que alguém da prefeitura havia entrado em contato com o dono do trio pedindo para atrapalhar a banda e maquiar a festa da vice-prefeita. O responsável pelo som do trio recusou-se a tal, afirmando: “Eu sou profissional e não farei isso”. O produtor de eventos local, responsável pela contratação da banda Affarra apenas lamentou o fato informando que já sabia da capacidade dos envolvidos na festa de carnaval de Maragogi.
Bloco Madeira de Lei
Diante da experiência, o produtor, que dessa vez trouxe outra banda da Bahia chamada Fuska Virado (conhecida nacionalmente pela música “Enfica”), preocupado mandou o grupo musical ainda durante a tarde para que se realizasse a passagem de som. Ele alertou os profissionais do trio de que, se houvesse qualquer tipo de maquiavelismo, todos os casos seriam entregues à justiça. “Sabemos que o pessoal do trio não tem culpa, mas cumprem ordens. Na verdade faltam pessoas sérias profissionalizadas para produzir o carnaval de uma das praias mais importantes do Brasil que é Maragogi. São amadores, não entendem da área, por isso acontecem essas divergências; mas dessa vez tudo será resolvido judicialmente caso façam sacanagem com a banda, porque o trio foi pago com o dinheiro do povo e isso não pode acontecer”, relatou o produtor musical responsável pela a banda Fuska Virado que preferiu não se identificar.
BOICOTE
Bloco Só Vai Quem Chupa
Apesar de toda a pressão sobre os blocos que são taxados como “blocos de oposição ao prefeito”, um que se mantém fora de discussões políticas acabou sendo também boicotado em plena avenida no povoado de São Bento enquanto centenas de pessoas o acompanhavam: o Bloco “Só Vai Quem Chupa.”
De acordo com informações, o boicote deveu-se ao atraso da banda Korelly Mello, que deveria ter chegado ao evento às 20 horas, mas atrasou-se em mais de uma. Segundo o coordenador Ralfe Ferraro, o mini-trio teria que ir para Maragogi arrastar outro bloco. Diante do descaso perante a população de São Bento, um carro de som da prefeitura informou no dia seguinte que o bloco foi parado por causa da Justiça, mas fomos informados de que quem parou a festa foi Ralfe Ferraro e não um oficial nem a própria polícia, distorcendo, assim, a nota do locutor. Lembramos que o Bloco Só Vai Quem Chupa é o maior bloco de São Bento e que a diversão e as despesas ficam por conta dos organizadores; a prefeitura apenas libera o mini-trio quando é possível.
Dois pesos e duas medidas
Desde que o carnaval de Maragogi foi modificado pela gestão do prefeito Sérgio Lira, onde a prefeitura não contrata mais bandas para fazer arrastões na orla ou tocar parado na Praça de Eventos, que o carnaval de Maragogi foi suprimindo. Hoje em dia foram os blocos particulares que assumiram o papel do poder público: há quatro anos são eles que vêm animando o carnaval contratando bandas, confeccionando abadás e etc., no entanto, a prefeitura só libera o trio elétrico. Entretanto, Informações extraoficiais revelam que apenas alguns donos de blocos são beneficiados com abadás e bandas doadas pela prefeitura.
Ambulantes
Aos poucos os ambulantes estão sumindo do carnaval de Maragogi. Antes, centenas de homens e mulheres eram vistos no meio do povo aproveitando os dias de festa para venderem bebidas diversas, de modo que muitos chegavam a lucrar incríveis valores.
“Hoje o que resta é só a vontade de trabalhar, mas dinheiro que é bom, nada. Quem ganhou bem mesmo foi à prefeitura, que exigiu pagamento de impostos para todos os ambulantes que, se não pagassem, seriam expulsos do carnaval da cidade. Não vendi nem a metade do estoque que comprei, não tive lucro; só trabalho mesmo. Esse foi o pior carnaval que já presenciei”, lamenta uma vendedora que pediu anonimato porque ainda faz outras atividades na praia de Maragogi, informando que, se o nome dela fosse revelado, com certeza seria perseguida pelo o município.
BLOCO BANGALELÊ
Com o pouco investimento no carnaval e com uma grande arrecadação extraordinária aproveitada através de impostos no momento da festa, o Bloco Bangalelê, pertencente ao prefeito da cidade, tem tido um aparato diferenciado dos demais: as bandas renomadas são especificamente contratadas para ele, com o intuito de arrastar multidões, ou seja, com foco em chamar atenção da mídia e estornar nas redes sociais o poder de quem tem dinheiro.
No carnaval do ano passado, quem arrastou o bloco do prefeito foi à banda Trio da Huana, cujo efeito foi à asserção geral de que aquele era o melhor bloco carnavalesco da história de Maragogi. Já para este carnaval, em pleno ano político foi a vez da banda André Marreta, de Paulo Afonso-BA, que seria a atração principal. Porém, a saída do bloco, marcada para as 23 horas, infelizmente não pôde acontecer porque a Banda André Marreta só subiu ao trio por volta de 01 hora da madrugada. Constrangidos, muitos foliões que foram embora cansados, e o arrastão perdeu grande parte de sua potencial animação. Este foi o único bloco que não cumpriu com o TAC, pois a festa que era para ser encerrada às 02h da manhã, foi encerrada às 03h5. O bloco do prefeito foi o único que quebrou o TAC, cabendo-lhe apenas a penalidade de multa de dois mil reais que serão repassados para o Fundo da Criança e do Adolescente. Cabe agora a promotora de justiça fazer o prefeito cumprir a multa.