A cidade de Maragogi, no litoral norte de Alagoas, vem sendo administrada há décadas pelos mesmos dois grupos políticos: o grupo do atual prefeito Fernando Sérgio Lira (PP) e o do ex-prefeito Marcos Madeira (PRTB). As eleições deste domingo (02) eram encaradas como termômetro para as eleições municipais de 2024; ainda existe expectativa de um retorno do ex-prefeito Marcos Madeira ao poder, e eleições estaduais atuam como fonte de animação aos grupos rivais, inclusive os mais apagados.
Em Maragogi, o grupo de oposição ao prefeito Sérgio Lira, liderado por Marcos Madeira, deu início à campanha estadual de forma antecipada, quando o pesado inverno destruiu várias estradas da Zona Rural. Naquele momento, máquinas pesadas e materiais entraram em Maragogi como forma de salvar o povo dos assentamentos, enviadas por Marcelo Victor (MDB), Luciano Amaral (PV) e Paulo Dantas (MDB). Com a recuperação de parte das estradas, os nomes de Marcelo Victor e Luciano Amaral, candidatos a deputados, eram citados minuto a minuto nos grupos de Whatsapp, os heróis do momento eram ovacionados, o que levava a crer que estourariam as urnas em Maragogi.
O ex-prefeito Marcos Madeira, em vídeos, expressava felicidade em ser reconhecido pelo atual governo tampão. Com a paz estabelecida entre o grupo de Madeira e o grupo do governador, vídeos em frente a caçambas e retroescavadeiras eram postados todos os dias, e a repercussão indicava o voto dali a poucos meses. No mesmo período, houve entrega de cestas básicas a pessoas carentes, o que gerou conflito entre o ex-prefeito e a primeira dama do município, um caso que foi parar na delegacia.
Em qualquer parte da cidade de Maragogi, os nomes mais cotados para deputado estadual eram Marcelo Victor, apoiado por Marcos Madeira, e Wagner Lira, filho do prefeito Fernando Sérgio Lira.
Todavia, no campo das campanhas eleitorais, as estratégias devem ter ousadia e planejamento para serem bem sucedidas, pois, na arte da guerra política, o lema é derrotar o inimigo sem lutar, e vence quem consegue encontrar os espaços vazios do campo minado, evitando pisar nas bombas escondidas.
O resultado das eleições deste domingo (2) na cobiçada Maragogi, indicou uma grande míngua da quantidade de votos do maior grupo de oposição da cidade. Com o declínio nas urnas do grupo rival ao prefeito Sérgio Lira, duas alternativas devem ser cogitadas: ou está na hora de buscar um novo nome para liderar a oposição, ou os métodos da atual oposição, os mesmos de seis anos atrás, tornaram-se obsoletos e não convencem mais o eleitor. Em política, derrotas exigem a reunião de cabeças pensantes, para que não se permaneça no erro. A oposição em Maragogi, porém, parece apreciar as sucessivas derrotas, pois ao fim de cada eleição voltam à vida normal como se dissessem: na próxima a gente ganha.
Isso se pôde observar no pleito do último domingo, após o fim das votações. Todos acreditavam que o deputado Marcelo Victor e Luciano Amaral, ovacionados na cidade, teriam larga vantagem. Após todo o esforço do grupo, porém, os candidatos não conseguiram estourar a bolha dos dois mil votos: mesmo com a estrutura que montaram na cidade, Marcelo Vitor obteve apenas 1.016 votos e Luciano Amaral, 1.305. A oposição também apoiou o atual governador Paulo Dantas, que teve resultado insatisfatório em Maragogi, ficando com 626 votos a menos que o oponente Rodrigo Cunha.
Outro ponto fraco na estratégia se observa nos poucos votos dos opositores nos Distritos, que permanecem fora do radar político, ainda que São Bento, Barra Grande e Peroba rendam quase a mesma quantidade de votos da Cidade de Maragogi.
As derrotas constantes levam a crer que a oposição trabalha como que num barco sem motor, à deriva, que, levado pelo vento, retorna ao mesmo lugar sem perceber. Ou então que o esforço está concentrado nos mesmos personagens, incapazes de furar a bolha, que obtêm sempre o mesmo resultado. Notadamente, está na hora de mudar as estratégias, pois a forma de fazer política vem se modernizando a cada momento, e o grupo parece que se perdeu no tempo.
Não podemos esquecer que Marcos Madeira conseguiu eleger seu filho em dois mandatos a deputado estadual (2010/2014). Ainda assim, a contemporaneidade obriga os políticos a se desenvolverem, buscarem engajamento nas redes sociais, integrar-se aos novos meios.
O prefeito Sérgio Lira, por outro lado, amargou a derrota de seu filho, Wagner Lira. Entretanto, pode-se dizer que foi uma derrota com sabor de vitória, pois o seu reduto lhe mostrou respeito e força, dando a Wagner quase cinco mil votos. Se, por exemplo, Wagner Lira fosse eleito e obtido apenas mil votos em Maragogi, talvez Sérgio Lira se entristecesse com a vitória, pois os números demonstrariam pouca influência na mesma cidade em que ocupa o cargo do Executivo.
Também não podemos esquecer da migração da base aliada do prefeito para apoiar políticos de outras regiões, a exemplo de Henrique Chicão (Republicanos-2.195 votos em Maragogi), Ricardo Nezinho (MDB- 463 votos) e Dudu Ronalsa (PSDB- 447 votos). Este fato pode ter ajudado a enfraquecer a candidatura de Wagner Lira.
Em outro contexto, dois vereadores autointitulados oposição ao prefeito Sérgio Lira se deram bem. Com pouca estrutura, Júnior de Barra Grande (MDB) declarou apoio pela segunda vez à deputada estadual Cibele Moura (MDB), que foi reeleita e obteve na cidade 787 votos. O vereador Fio (MDB) também obteve sucesso ao conseguir mais votos à sua deputada do que a quantidade que o elegeu ao legislativo.
Assim, diante desse modelo de política, apresentado ao povo maragogiense a cada ano, resta sentar e esperar para ver quem terá mais votos nas próximas eleições.